
Essa semana tive mais uma crise de ansiedade por conta do trabalho.
Ainda não superei a pandemia e não acredito que ela acabou como muitos consideram.
Mas, no meu trabalho, pessoas transitam sem máscara e há pessoas não vacinadas circulando.
Então, para mim, é um tormento ir ao trabalho. As pernas tremem só de pensar.
Primeiro, porque nunca foi fácil.
A sensação que tenho é de estar indo para um campo de trabalho forçado, sem tempo para comer, beber água…
Segundo, porque o trabalho triplicou e me sinto esgotada, exaurida e ameaçada.
Como diz Byung-Chul Han ” Viver não significa hoje outra coisa do que produzir”
E se você não produz, não é gente.
O neoliberalismo nos transformou em servos do trabalho, autoexplorados.
Porque eu admito, eu me autoexploro para ser considerada competente.
Faço isso para que não receber cobrança, entrego tudo antes do prazo.
E assim, adoeço, porque não aguento a pressão.
Não porque eu seja incapaz, mas porque a pressão é desumana.
O shabat
Não existe mais shabat (o dia do descanso) na sociedade moderna.
É antiquado parar, parece coisa de gente fraca.
Não temos direito de nos recuperarmos dos flagelos do trabalho e por isso adoecemos.
Somos máquinas incansáveis de produzir e mesmo quando achamos que estamos a nos divertir, estamos a trabalhar.
Trabalhamos de graça para os magnatas das redes sociais, por exemplo.
Quando deslizamos as telas, numa tentativa de entretenimento, ajudamos a alimentar o comércio de dados.
Mas isso não nos preenche.
E quando menos esperamos estamos exaustos e sufocados.
Não há espaço nem para o tédio.
Na verdade o tédio se torna um pecado.
O excesso de trabalho
O excesso de trabalho, na sociedade do desempenho, leva-nos à uma vida vazia.
Não refletimos, não paramos para contemplar.
Uma borboleta voando se torna invisível, o cantar dos pássaros, inaudível.
O barulho do mundo exterior nos priva do belo.
Até o conhecimento não é mais para satisfazer a sede de saber, mas para nos conferir uma promoção, para mostrar o nosso desempenho.
Tudo, portanto, se resume ao trabalho, e assim ele se coloca mais como maldição do que bênção.
Volto a citar o filósofo para encerrar esse texto de reflexão:
” A vida que se exaure no trabalho e na produção é um estágio absolutamente atrofiado da vida”
Esse texto é um desabafo após uma crise de ansiedade, em decorrência do trabalho.
Um conselho que dou para todos os ansiosos: Não queiram interpretar o papel de fortes.
Não minimizem duas dores diante de um modelo insano de sociedade que nos impele a viver pelo desempenho.
Deus é nosso maior refúgio, mas terapia e remédios ajudam bastante e claro, ficar longe por um tempo daquilo que lhe oprime: o trabalho.
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