Certo dia, lendo o livro Correr con los caballos (Corra com os cavalos) de Eugene Peterson, deparei-me com esse trecho:
“A religião de Manassés estava centrada no que William James, de forma memorável, chamou de o pequeno ego convulsivo“
Tal trecho refere-se à religião de Manassés, um dos reis mencionados no livro de Jeremias.
Essa religião, como pontua bem Eugene Peterson, servia como um auxílio sobrenatural para realizar os desejos do coração.
Entre esses desejos estavam o pode econômico, uma boa colheita, bem-estar pessoal ou até mesmo assassinato.
A exploração do trabalho do outro também estava na lista.
Quem foi Manassés?
Manassés foi o pior dos reis hebreus. Reinou por 55 anos. Seu reino foi corrupto e maligno.
Ele incentivou a prática de tudo o que era contrário ao que Deus requeria de seu povo.
Como por exemplo, cultos pagãos envolvendo orgias sexuais dentro do templo.
Além disso era um homem cruel, chegando ao ponto de sacrificar o próprio filho em um ritual de magia negra. (2 Reis 21).
A customização da fé
A customização da fé inclina as pessoas a cada vez seguirem seus desejos egoístas.
Não é padrão de Deus, é o próprio padrão. Não é o que Deus diz, mas a opinião pessoal.
Mas é claro que podemos ter opiniões.
Contudo, algumas coisas são nos dadas por Deus como mandamentos.
Por exemplo, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não matar, não roubar…
Mas era exatamente tudo isso que o povo sob o reinado de Manassés não fazia.
Nos tempos de hoje
Nos tempos de hoje não é muito diferente.
Rouba-se em nome da fé em Deus.
Enquanto pastores ostentam carros de luxos e mansões em países estrangeiros, fiéis têm de contar os últimos trocados para pagar as contas.
Parcela-se até o dízimo, porque se não derem, o devorador acabará com o pouco que já possuem.
Usam a “maldição do dízimo” para manter cativas mentes inexperientes e continuarem engordando suas abastadas contas bancárias.
Era justamente contra isso que Jeremias( personagem central do livro Corra com os cavalos) pregava. Contra as injustiças, a maldade, a vida de aparente piedade religiosa, mas vazia de Deus.
Palavra e atitude
Ir à igreja todo domingo e pronunciar alguns jargões do mundo gospel não faz de ninguém um discípulo de Jesus.
O local e as palavras podem ser apenas uma fachada para sustentar um eu interior corrupto de maneira mais segura.
Exemplos não faltam. São muitos os que mantêm os discursos religiosos, pronunciando o nome de Deus em tudo e usando o nome de Deus para matar, roubar e destruir.
Desde políticos a pastores, são muitos os lobos em pele de cordeiro usando o nome do Eterno para favorecer a si mesmos acima de tudo.
Como diz Eugene Peterson:
” O lado exterior é muito mais fácil de reformar do que o interior. Frequentar assiduamente uma boa igreja, e repetir as palavras certas é imensamente mais fácil de se fazer do que se esforçar para manter uma vida de justiça e amor entre as pessoas com as quais se trabalha e convive.”
Imagens sem conteúdo
Nossa cultura idolatra a imagem. Nela, a imagem vem antes do conteúdo.
E muitos se decepcionam depois que o rótulo é removido.
Como consultora de imagem e estilo, já vi muitos casos de pessoas buscando aparentar o que não são para de alguma forma alavancar a carreira de forma mágica.
O problema é que elas queriam comunicar algo que não existia.
Logo, a imagem sem conteúdo não se sustentava.
A imagem fabricada pode até servir de motivação para uma mudança, mas se essa mudança não for genuína, cairá por terra.
No meio cristão ocorre algo parecido.
Algumas pessoas tentam manter a fachada de santidade com roupas e palavras bem ensaiadas.
Será que acreditam que podem enganar a Deus?
Mas nem todos são frios e calculistas assim.
Apenas vão se deixando levar pela necessidade de pertencer a um grupo.
Portanto, se todos se vestem assim e falam assim, também o farão.
Mas isso não significa que houve real transformação. O que pode ter ocorrido é apenas um condicionamento de comportamento.
A imagem é importante, claro, mas sem conteúdo, não passa de mentira.
A customização da fé
Deus não nos criou como fantoches.
Logo, é claro que podemos ter opiniões e tomar decisões por nós mesmos.
Mas Ele deixou muitos preceitos que precisamos observar.
Servir a Deus não se resume a frequentar uma igreja que atenda aos nossos gostos e opiniões políticas.
Mas sim seguir os passos de Jesus. Amar as pessoas e não usá-las. Lutar contra as injustiças e não cometê-las. Defender o fraco e o oprimido e não explorá-lo. Amar acima de tudo.
Quando o lugar de culto não conduz mais a uma caminhada com Deus, quando os “jargões gospel” viram interjeições ou palavras superticiosas, eles não expressam mais o amor e a fé.
Eles passam a expressar os desejos egoístas do coração humano, que como bem colocou Jeremias em seu livro, é enganoso. ( Jeremias 17:9)
E produzem uma fé customizada, a qual é perigosa. Pode ser arma nas mãos de líderes mal-intencionados, ou ainda uma forma de legitimar erros e injustiças
Precisamos ler a Bíblia com sabedoria e é mister que aprendamos também a pensar.
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